Iniciativa THE CONF

2016 October 20, 12:00 h

Obs: if you don't understand Brazilian Portuguese, please read this English version.

Atualização 04/04/2017: Praticamente toda infraestrutura do evento e fornecedores já estão fechados! O Evento está confirmadíssimo! E o Call for Papers está no ar até Maio, mande sua proposta de palestra o quanto antes!

Atualização 09/12/2016: Confirmamos as datas de 29 e 30 de Setembro de 2017 no Centro de Convenções Rebouças. Reservem as datas em suas agendas!

Faz algum tempo que venho pensando sobre eventos de desenvolvimento de software no Brasil e o tema me incomoda muito faz alguns anos.

Eu anunciei minha "aposentadoria" da organização da Rubyconf Brasil porque eu queria pensar em como resolver esse meu incômodo.

Quando decidi fazer uma "Rubyconf" no Brasil, minha preocupação de 1 década atrás era se o tema em si atrairia número suficiente de pessoas. Eu tinha uma meta em mente: uma conferência de ponta, inspirada na Railsconf norte-americana, que trouxesse mais de 1.000 pessoas.

Essa meta foi atingida faz alguns anos já, se não me engano pelo menos desde 2013.

Mas o formato nunca evoluiu o suficiente pra mim.

Em outros países, mais notavelmente nos Estados Unidos, alguns países da Europa como Inglaterra, e algumas exceções na Ásia como no Japão, as conferências de software atraem muita gente de todo o mundo. Como exemplos temos Railsconf, OSCON, Microsoft Build, QCon NY, QCon SF, ApacheCon, LinuxCon, Apple WWDC, Google I/O, etc.

Alguns destes enchem por motivos óbvios. Se você quer saber as novidades ainda não reveladas da Apple, você precisa ir no WWDC, por exemplo. Muitos deles atraem gente por realmente terem conteúdo exclusivo das empresas que as criam, como Microsoft, Facebook ou Google.

Outras atraem gente pela reputação dos seus palestrantes e por sua vez esses palestrantes querem participar desses eventos porque isso impulsiona seus currículos, é o caso talvez de eventos como OSCON ou QCon NY/SF. Eventos como esses juntam facilmente 1 mil, 5 mil, ou mais pessoas pagando tickets acima de USD 500 até alguns mais caros que USD 2.500!

Eu não sou do tipo "anti-imperialista" como muitos radicais que preferem não consumir produtos norte-americanos ou dizer que não devíamos usar Inglês e sim forçar Português, por exemplo.

Pelo contrário, eu acredito que todos nós devemos adotar o Inglês como lingua-franca para toda comunicação a respeito de tecnologia.

Não para virar "puxa-saco de gringo", exatamente o oposto: justamente para parar de puxar-saco de gringo!

Conundrum

Esta seção pode se tornar confuso então vou tentar ser o mais direto que puder. Vou também restringir a narrativa somente ao Brasil, mas os mesmos argumentos podem servir para qualquer país na América Latina. Por favor, tenham paciência nesta parte.

Primeiro de tudo, nossas conferências são todas apresentadas em Português do Brasil, exclusivamente para uma audiência brasileira.

Para aumentar suas reputações, grandes eventos aqui trazem palestrantes convidados "internacionais" - e por "internacional" entenda "fora da América Latina", como EUA ou Europa.

A audiência local vai a esses eventos algumas vezes somente por causa da qualidade desses convidados.

Mas a verdade não dita é que a maioria desses convidados não viriam por vontade própria sem um convite ou incentivo financeiro. Mas esses mesmos palestrantes normalmente competem para poder falar em eventos americanos ou europeus. Eu não estou criticando eles! É uma consequência natural e eu faria a mesma coisa se fosse eles.

Isso é o sintoma de como eventos no Brasil são feitos. Eles são muito bem feitos e efetivos para a audiência que querem atingir: brasileiros. Simultaneamente isso os torna nada atrativos para todo o resto do mundo.

É uma questão de economia, porque é caro vir pra cá, americanos precisam tirar visto e isso é muito burocrático, e eles teriam melhor exposição em eventos mais diversificados que entendem inglês.

Ao mesmo tempo temos diversos grandes desenvolvedores brasileiros aplicando para palestrar em eventos americanos ou europeus para ganhar mais exposição, exatamente pelas mesmas razões: nossos eventos brasileiros não tem alcance com nenhuma platéia não-brasileira.

Somente brasileiros entendem Português do Brasil.

A audiência internacional não tem noção da qualidade dos palestrantes brasileiros porque nós não estamos fazendo um bom trabalho em mostrar isso.

Um primeiro passo para remediar essa situação é tentar alguma coisa nunca tentada antes: criar uma conferência no Brasil onde a principal linguagem de apresentação seja inglês. Surpreendentemente, eu acredito que isso soa como algo nada demais para qualquer um, de qualquer lugar, menos se você for brasileiro!

Isso não vai aumentar a quantidade de palestrantes "internacionais" querendo vir pra cá, e esse não é o objetivo.

O objetivo é criar um palco internacionalmente reconhecido para nossos desenvolvedores de mais alto-calibre para se apresentarem para uma platéia muito maior. Essa platéia seria capaz ou de vir para cá participar ou assistir online. Porque nenhum americano jamais vai tentar assistir uma palestra gravada no Brasil que é falado em Português, mas eles não teriam problema nenhum em assistir um brasileiro falando em inglês.

Não somente nossas conferências não são atrativas para platéias que falam inglês, mas não são atrativos nem mesmo para nossos amigos vizinhos na Argentina, Colômbia, Chile, Uruguai, Paraguai, etc.

O Brasil é uma grande ilha que fala Português (do Brasil) cercada por países que falam Espanhol, em um mundo globalizado que fala Inglês.

Podemos fazer melhor.

Do Brasil para o Mundo

Acho que a primeira coisa para mudar as coisas é criar um palco internacional em solo nacional.

Nunca fui no FOSDEM mas ouvi dizer que é um evento que acontece na Bélgica, onde o público fala principalmente 3 línguas: holandês, francês e alemão e o conteúdo é em Inglês. Europeus já são muito melhor acostumados a lidar com múltiplas línguas do que nós no Brasil, onde sequer sabemos o Espanhol que todos os países da América do Sul falam - menos o nosso.

A maioria dos brasileiros e latino americanos sequer sabe que muitos de nós já estamos competindo internacionalmente, de igual pra igual. Muitos grandes contribuidores em projetos de código aberto são brasileiros, muitos engenheiros em grandes empresas gringas conhecidas, e até mesmo diretores e CTOs em empresas nos EUA e Europa são do Brasil.

Por exemplo, vocês sabiam que o ex-Diretor de Engenharia do SoundCloud em Berlim e atual Diretor de Engenharia na DigitalOcean de Nova Iorque é brasileiro? E sua equipe conta com uma dúzia de engenheiros brasileiros agora. Vocês sabiam que um dos VP de Engenharia de Software da Godaddy é brasileiro? Você tem engenheiros brasileiros trabalhando no Heroku, Gitlab, RedHat, tech startups como Doximity, Pipefy. E isso não é nem contando grandes empresas nacionais como Nubank, o cartão de crédito controlado todo online que todo mundo quer ter e um dos maiores cases mundiais da linguagem Clojure. Elixir, a linguagem que vem conquistando todo muno, inventado e construído por um brasileiro que mora na Polônia. Xamarin, um dos maiores catalisadores da entrada da Microsoft no mundo de código aberto, fundado por um Mexicano, com importantes engenheiros brasileiros também. Crystal a nova linguagem que promete ser parecida com Ruby mas com performance de linguagem compilada, inventada e contruída por um Argentino. E se você é um desenvolvedor Rails, com certeza já usou Devise, a biblioteca mais ubíquita na comunidade Rails, feita e mantida por brasileiros. E a lista não acaba.

Não estou dizendo que ao fazer um evento em inglês teríamos palestrantes "internacionais" fazendo fila pra vir pra cá. Nem é esse o objetivo. Mas eu sei que existem muitas empresas de tecnologia pelo mundo que precisam contratar excelentes engenheiros, onde quer quer estejam.

E assim como muitos latino americanos sequer sabem do nosso nível internacional, essas empresas muito menos sabem disso ou onde procurar. Pouca gente de fato, na prática, sabe que as comunidades da América do Sul competem de igual para igual com engenheiros de qualquer parte do mundo.

Não somos meramente mão de obra barata!

Somos engenheiros muito qualificados, mais acessíveis que um norte-americano, em fuso horário melhor que alguém da Índia ou do Leste Europeu.

Mas até agora estamos fazendo um péssimo trabalho em mostrar nossas qualidades ao mundo.

Um palestrante local que tenha sua palestra gravada no YouTube sequer pode mandar o link para uma empresa americana: ninguém ia entender.

Um evento todo em inglês seria um problema para o público latino americano?

Não! Eu venho experimentando com isso faz alguns anos. Na primeira Rails Summit que fizemos em 2008, 2/3 da platéia precisava de tradução simultânea de inglês para português.

Em 2015 esse número caiu para, talvez, uma dúzia de pessoas em mais de 1.000. E em 2016, pela primeira vez, retiramos totalmente a tradução simultânea. E nenhuma palestra de gringo ficou vazia. Fiquei sabendo que a QConSP também cortou a tradução este ano.

Nos últimos 10 anos o público brasileiro subiu muito de nível. Com tanto material disponível no YouTube!, em cursos online que vão de Code School a Code Academy e tantas fontes de screencast, estamos mais do que acostumados a consumir material em inglês. Aliás, sabiam que um dos melhores instrutores do Code School há anos é brasileiro?

Mais e mais estamos descobrindo que nossas capacidades técnicas, se bem exploradas, não deixam a desejar frente a nenhum programador dos EUA ou Europa, tanto que vemos hoje dezenas de excelentes programadores brasileiros se mudando para os EUA ou Europa, para ocupar posições importantes em diversas empresas que apreciamos como Google, Heroku, Gitlab, Digital Ocean, Medium e tantas outras.

Temos dezenas de ótimos eventos de tecnologia, de diferentes tamanhos, acontecendo em diversos estados pelo país. E eles são ótimos principalmente para introduzir tecnologia em comunidades regionais, estudantes e iniciantes. E para isso realmente acho que eles devem continuar sendo em português, para atrair mais gente.

Mas entre eventos para iniciantes e eventos avançados de nível internacional existe um "gap" que nenhum outro evento está tentando preencher.

Os programadores latino americanos têm nível internacional.

Acho que chegou a hora de criar um evento que finalmente leva isso em conta: um evento de nível internacional que possa ser consumido por um público internacional. Alguém precisa começar.

Se não nós, quem? Se não agora, quando?

O primeiro critério: que ele seja todo em inglês, primariamente com palestrantes locais apresentando em inglês. Onde o material gerado esteja disponível para qualquer pessoa do mundo todo.

Code-Only aNd Fun - No-Frills

Eu acredito que um evento precisa ter foco.

Um evento que tenta fazer de tudo dilui seu conteúdo e acaba não tendo uma identidade. Todo evento parece a mesma coisa, fala a mesma coisa, só muda de nome e endereço.

Em vez disso, eu começaria pensando num evento para programadores, feita por programadores, com foco forte em programação e criação com software. Quero pensar num evento técnico, com propostas de apresentar conteúdo exclusivamente ao redor de código.

Então o segundo critério de um evento deste tipo seria que a proposta do palestrante precisa se ater a código.

A preferência será para códigos, abertos, de sua própria autoria, embora numa primeira vez podemos ver caso a caso, mas nada que seja diferente de desenvolvimento de software. Nada de propaganda para vender serviços. Nada de auto-ajuda. Nada diferente de código.

Exemplo disso seria softwares como Sonic Pi que é um live coding de música expresso numa DSL em Ruby. Ou que tal o Ruby 2600 do nosso camarada Chester que é uma versão de emulador de Atari em Ruby. Ou então esta palestra de interface testing com Diablo 3 do nosso colega Rodrigo Caffo apresentado na Rubyconf 2012 (um ótimo exemplo de um brasileiro palestrando em inglês lá fora). Ou então qualquer um dos mais de 150 repositórios do prolífico Nando Vieira.

E isso são somente os exemplos pequenos. Nosso colega Rafael França acabou de completar 4 anos como Rails Core, e é difícil dizer quanto código dele vocês usam em projetos Rails todos os dias. Ele também apresenta em inglês, como esta palestra de Sprockets na Railsconf 2016.

E saindo do mundo Ruby, existem vários grandes exemplos nos mundos de Python, Javascript, Go, Devops, e vários outros.

Parte dessa idéia veio da palestra de Koichi Sasada, um dos principais líderes do desenvolvimento do MRI Ruby quando ele mencionou sobre "EDD: Event Driven Development" na Rubyconf Brasil 2014:

EDD

Muitos desenvolvedores iniciam código novo open source ou aceleram seus desenvolvimentos perto de eventos justamente para poder mostrá-los. É um tipo de ciclo positivo onde uma coisa leva à outra. E este tipo de evento seria um catalisador interessante para fomentar exatamente esse tipo de ciclo. Não somente palestras "conceituais", "idéias sem execução", "auto-ajuda", mas apresentação de código que leva a mais código, ano após ano.

Então o critério seria código e diversão, ou "Code-Only aNd Fun".

Iniciativa "THE CONF"

Toda primeira vez de um evento começa pequeno, e um evento somente de código também tem que começar com seu Beta.

Meus critérios:

O Alvo: sendo realista, inicialmente o alvo maior será o público de programadores brasileiros, mas com sorte consigamos atrair nossos amigos pela América Latina, e também o público internacional nem que nos assistam somente online. Inicialmente talvez seja um tipo de evento que atraia pelo menos 300 pessoas, com talvez uns 20 palestrantes. Seria um excelente tamanho para um primeiro passo.

O Objetivo: criar um palco latino americano para mostrar as nossas capacidades, na prática, ao mundo. Nenhuma palestra patrocinada para vender produtos, nenhuma palestra que não seja voltada à programação na prática.

Se eu não estiver enganado esta seria a primeira (na realidade soube agora que já teve JSConfBR 2013 e 2014 que tentou esse formato!) conferência feita no Brasil, com palestrantes latino americanos, mas com a missão de se tornar uma conferência internacionalmente reconhecida, que atraia mais gente da comunidade Latino Americana e futuramente atraia a atenção de empresas do mundo todo buscando pelos melhores programadores, onde quer que estejam.

Esta é a Iniciativa "THE CONF".

THE CONF INITIATIVE

Se você gosta da idéia e quer participar, comece a seguir @theconfbr no Twitter e a fanpage no Facebook. Este é basicamente o primeiro "rascunho" da idéia e agora é a hora de mandar sugestões. Quanto mais suporte eu ver, mais fácil será decidir ir em frente ou não.

Ainda não tenho uma data, mas se a idéia ganhar tração gostaria de tentar o segundo semestre de 2017. Mostre seu suporte e suas sugestões para me ajudar a decidir se a idéia é boa, e os detalhes da melhor implementação.

tags: theconf conference

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